terça-feira, agosto 22, 2006

Mera name Thayse he.

E então passou os 5 meses. O tempo que eu achava que era preciso ficar fora de casa pra aprender a viver.
Antes de ir eram 2, depois viraram 6 e no final eu fiz minha própria escolha de passar somente 5.

Jamais imaginei que eu, uma guria de 19 anos, fosse deixar pra trás a minha cidade, minha família e amigos, minha casa confortável e me embrenhar pela vida louca indiana. Mas sim.. eu fiz. De tanta gente eu ouvi coisas ruins... "vai passar fome na Índia?!", "vai comer com a mão?", "vai comer cachorro?", "como que vai tomar banho lá?!"... Bom... eu não passei fome na Índia. Sim, eu comi com a mão - e ai, sorry..ainda como de vez em quando! -. E não, pessoas, eles não comem carne de cachorro, é na China que isso acontece. E táá, eu admito, ás vezes a gente tinha mesmo é que dar uma enforcada no banho!

Por muitas vezes eu tive que brigar por isso.. pq a Índia?! Pq tão longe?! Era tão mais fácil trabalhar na Universal Studios e ter um inglês legal, juntando dólares para bancar os estudos, como todo mundo faz. Sem querer menosprezar esse tipo de viagem, quem sabe um dia eu até venha a fazer isso. Mas porque ser igual, se dá pra ser diferente!? Porque diabos desperdiçar uma oportunidade porque... bem..a Índia é longe?! E me perguntam.. "pq a Índia?!" Bom.. porque me apareceu isso.. Moda na Índia. Quem me mostrou aquele bilhetinho pregado no mural do Campus 8 foi uma colega. E eu me emocionei olhando pra ele pela primeira vez. Como se alguma coisa me dissesse "é, filhota, vai rolar sim!". E daquele dia pra frente MUITA coisa deu errado. Muito encosto apareceu.. Mostrando que era a hora mesmo e eu já não aguentava mais ficar aqui sofrendo e muitas vezes chorando, com crises de "que que eu faço agora da vida?". E quando tava tudo mais ou menos encaminhado tudo melhorou. Conheci pessoas maravilhosas, muita coisa linda aconteceu e mais uma vez era a prova do "Vai mesmo pra lá?!". Sim...eu ia.

Quando eu imaginava que eram 6 meses eu nunca pensei na exatidão do tempo que isso significava. São dias.... mtos dias!!! Apesar de tudo de ruim que eu ouvi antes de ir, isso só me dizia ainda mais PEGA E VAI. Me dava mais força ainda de provar, tanto pra mim, como pra quem me "ajudou moralmente" que eu era capaz.

E deixar tudo para trás foi fácil... porque era muito estranho pensar no tempo que ia ser. Mas eu sabia que tudo ia estar aqui... tudo igual...quando eu chegasse. E todos me diziam "nossa, tu vai mudar muito, vai amadurecer muito". E eu e a Pati, nos nossos dias de filosofia intensa, pensávamos o que diabos as pessoas queriam dizer com isso?! Eu não sei se eu mudei... olha, talvez sim. Ou talvez tenha sido uma evolução, e não mudança.

E nos dias da crise braba, quando dava vontade de jogar tudo pro alto, fazer as malas e gritar um "desisto" a plenos pulmões???! A saudade, um abraço bem apertado, minha cama, meus amigos, as festas de todos os findis, comidinha da mãe?! E foi numa época braba dessas que eu abri minha caixa de entrada... vi lá um email de uma pessoa que também estava fora, tinha ido depois de mim e ia chegar em casa antes ( mundo injusto! heheh ). Nossas histórias de intercâmbio eram praticamente as mesmas, comparadas emocionalmente, sendo que ela estava num mundo altamente evoluído e globalizado...E bem, eu, como todo mundo sabe, estava na Índia ( sem mais! hehe ). No email que eu tinha escrito falando que tava morrendo de saudades de certas pessoas, de coisas que me emocionavam muito e me faziam querer MUUUITO voltar pra casa, ela me respondeu mais ou menos assim : "Calma Thay, é tu quem tá fora. As pessoas estão lá, exatamente iguais. No mesmo endereço." E estavam mesmo. E a partir daquele dia, quando eu estava no limite da paciência e da saudades eu lembrava disso "No mesmo endereço". E a ansiedade de estar de volta passava... ou diminuia...
E de fato, quando eu voltei... Bom.. EU voltei. Eu que tive que me encaixar na rotina de novo, eu que tive que me readaptar. As pessoas... é...as pessoas continuavam aqui. Exatamente iguais... tão iguais, que pareciam ser previsíveis em certas atitudes.

Quando pisei em casa e minha cabeça reviveu momentos... Abri a porta de entrada e dei de cara com um mural improvisado - mas muito cheio de amor - com todas as minhas cartinhas e cartões postais. Fotos que eu tinha mandado por email pra minha família, impressas e penduradinhas. Notícias. O cartaz que minha tia me entregou no aeroporto cheio de fotos antiguééézimas minhas e que eu não pude levar porque não tinha mais espaço na mala e minha família trouxe pra casa.
Minha casa cheirosa, meu quarto com um vaso de gérberas lindas, meu banheiro - BRANCO - limpinho!
E as coisas que vão acontecendo "lembra daquilo...ah, tu não tava mais aqui.." ou "tu viu..ah, mas tu já tinha ido"... São engraçadas!
Por uns dias eu olhava para as coisas esperando que um rato ou um bolo de moscas saísse quando eu encostasse. Verificava a cama em busca de bichos perdidos e via vultos de coisas se mexendo. Era paranóia. Mas eu agora estava em casa, no meu quarto e por 2 segundos eu ficava pensando "ai Jesusinho!! de novo não!" e daí eu lembrava que desde que eu nasci minha mãe nunca teve o costume de criar ratos em casa... e o susto passava.
Nas primeiras semanas tive que me adaptar a TUDO! Incrível como agora entendo e apóio a Luciana Gimenez. Que disse uma vez que errava o português porque passou muito tempo falando inglês. Na época eu achei a pior frase que uma perua poderia ter dito.. Bom, eu agora estava fazendo a mesma coisa. Tive que pedir pra minha mãe levantar da mesa na padaria e pedir mais um cachorrinho quente pra mim porque eu não lembrava como começar uma frase em português sendo que eu tava pensando no "May I ....?" e aquilo não tinha jeito de se ajeitar na minha cabeça no modo Brazilian Portuguese.

E eu agradeço também pelos emails que recebi enquanto tava lá. Abrir a caixa de entrada e saber que não tinha nada dos amigos ( porque, dá licença, né...mas da família tinha uns 15 diários! hehe ) era péssimo elevado na décima potência. E isso me deixava poooor conta. E depois que eu voltei eu me dei conta que isso não existe. Claro que as pessoas lembravam, claro que pensavam em mim, comentavam alguma coisa, ou quando viram a VEJA edição especial Índia?! Quantas frases do tipo "aaah a Thay" devem ter sido faladas?! Ai o ciuminho que eu tiiiinha hehehe

E dia 19 / 08 / 2006 fez um mês que eu voltei. Comemorados com uma ótima Supply Full que eu não aguentei até as 6 da manhã porque estava muuuito fora de forma! Rave não é pra qualquer um.. ainda mais sem meses de treinamento! E fez 1 mês que eu encontro as pessoas e elas me pedem "e aííííí, como foi!?" Como assim!? Como foi!? E eu fico pensando na cara que eu faço. Porque a pergunta vem cheia de espectativa... e eu devolvo ela sei lá, ás vezes pode até parecer desânimo. Mas gente.. eu juro... O que eu respondo depois de um "Como é que foi!?". FOI! Foram 5 meses e se eu tivesse que falar COMO FOI para 5 meses.. eu não sei como faria! Cada coisa, cada dia... Foi... foi... !

Foi barulhento, foi chato, foi calor, foi tenso, foi sujo, foi maravilhoso, foi emocionante, foi um pé no saco, foi suado, foi nojento, foi hinglês, foi chorado, foi divertido, foi apavorante, foi úmido, foi desértico, foi intenso.... FORAM 5 MESES.

E nesse tempo todo eu comemorei meu aníver e agora eu tinha 20 anos. E eu tive muito tempo, desse todo que eu passei por lá, pra pensar na vida. E eu não voltei pra casa pra continuar na mesma, pra fazer tudo que eu sabia que eu fazia errado antes só porque "Bom, eu voltei! Vamos nos acomodar e ficar na mesma!" Não que eu tenha uma revolução separatista guardada na bota. Porééém, nada como ir mudando.. ou como dizem, evoluindo aos poucos. :)

E não pensem que eu enganei vocês, dizendo que postava fotos e esqueci. Muita gente deve ter me amaldiçoado, "cadê as benditas fotos, pessoa?!" Siiim... eu admito que no começo eu não sabia como fazer para colocá-las aqui, depois, eu admito que não tinha tempo pra isso e depois... depois eu me acomodei e aproveitei o tempo que tava em casa pra fazer outras coisas e esqueci de vocês, leitores disso tudo!
Mas elas vem :)

Ah...as pessoas que eu citei acima : Katina, que me mostrou o mural no Campus 8.
E email milagroso : Laura, valeu amiguinha! :)

E tantas outras pessoas que eu passaria a vida citando, mas só coloquei os dois nomes ali em cima porque foram fatos isolados. Meus pais, minha irmã, meus avós, minhas tias e tios, meus primos, meus amigos, conhecidos e " arrozes de festa " que eu só encontrava nos finais de semana.

MUITO OBRIGADA POR TUDO
Namaste

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Thay
Que bom que voce voltou para casa !
Sã, salva... amadurecida, evoluída.
Comigo foi a mesma coisa : "India...voce é louca ?" "Nossa tanto lugar bom pra viajar e voce vai pra India?" e tal..também foram 5 meses.
Acho que agora sim, voce vai ver o que a India fez contigo, daí o amadurecida e evoluída , não dá pra ficar na India 5 meses e voltar a mesma pessoa... a mudança é interior, talvez invísivel para os outros... mas para nós que fomos é ótima...dá uma coragem !!!
Parabéns, li o seu blog todinho
voce é lindinha, muito inteligente, escreve de uma maneira cativante.
Vê se continua com o blog, contando a parte Brasil pós India.

Fica na Luz
Namaste

Anônimo disse...

Olá Thayse!
Até que fim terminei de ler teu blog!Tava um pouco distante e bem ocupada mas sempre lembrava desse blog.Ele me marcou em muitas coisas e é estranho pois não te conheço nunca te vi mas a forma como você expressa os teus sentimentos mexe conosco( comigo principalmente) como se estivessimos vivênciando junto com você.No sei se as outras pessoas se sentiram assim,deve ser pq sou emoção,alegria,lágrimas e razão é assim como me definem. Parabéns pela linda jornada e por tudo que está aprendendo e da melhor maneira que um ser humano nessa terra pode aprender" Com as Lições da Vida"...As vezes falam de felicidade como uma coisa distânte sei que vc viveu dias de cão lá, como qualquer pessoa distânte de casa pode viver. Dificil saber que estamos no lugar onde não teremos´pessoas que não nos amam de verdade como nossas familias. Tipo as coisas de mãe" Minha filha é a mais linda do mundo" e nós abrimos um sorriso pra ela! Mas sei que o seu crescimento vai a partir de agora te fazer enxergar coisas com outros olhos, com os olhos da razão de sentimentos, medos e cima de tudo a coragem pra seguir em frente e deizer bem em seu intimo. Eu consigo! Eu me Amo e me conheço a cada dia!

Felicidades.

Klycia Nascimento...