domingo, agosto 20, 2006

Tem...mas acabou!

Nossos últimos dias na Índia.....
16 e 17 de julho foram correria total. A cada pouco nos olhávamos e começávamos com a canção da despedida... uma musiquinha que inventamos, contando os dias e rindo no final.
Idas à Pink City, compras de última hora, passeios super corridos e arrumação de malas. Idas à internet, nervosismo, telefonemas confirmando os horários de embarque e desembarque e isso e aquilo. Esses dois dias passaram tããão na correria... E foi ótimo! Assim eu não tinha tempo de ficar triste por ir embora ou tentar técnicas de segurar o choro cada vez que lembrava que ia rever minha família e meus amigos.

A ida ao aeroporto foi ótima. A família Bordia ( meus chefes ) nos ajudaram com o peso das malas, indo na empresa para checar o peso na balança e nos ofereceram um carro deles, com motorista para que nos levasse até lá. Como não estavam em casa ás 17, a hora que saímos pra o aeroporto, ligaram, pedindo desculpas pela indelicadeza e se colocaram a disposição para qualquer coisa. Pediram que os mantivessemos informados a respeito do nosso paradeiro e assim que chegássemos no Brasil, mandássemos news!
Quase não acreditei que existiam pessoas assim... depois de tudo que eu tinha passado, tanto stress e complicações na Índia... Deus faz mesmo as coisas da melhor maneira possível..e a gente ainda reclama :)

Chegamos ao aeroporto de Jaipur e a viagem foi tranquila até Mumbai.
De novo, estávamos ali naquele aeroporto... alguns dias atrás nos lamuriávamos por estar embarcando ali e nem era pra casa. E então...esse dia tinha chego! Sim, estávamos ali de novo, mas ..DESSA VEZ, indo pra casa! Trocamos de terminal em Mumbai..do doméstico pro internacional... espera o ônibus, carrega as malas no ônibus, anda uns 30 mins até o outro terminal, desce do ônibus, descarrega as malas e tenta entrar no aeroporto. Parecia que aquela hora era o maior pico de todos os tempos! Muuuitos indianos com carrinhos de malas, se dando tchau exatamente NA PORTA do terminal, batendo com os carrinhos nas nossas panturrilhas e fazendo de conta que nem nos encostaram, quando, na verdade, já era a quinta vez que sentíamos aquele troço nos batendo e nossas pernas começavam a amortecer e ficarem roxas.
Um idioma familiar chegou aos nossos ouvidos e logo nos demos conta que a voz era um pouco grossa pra ser de uma de nós. Viramos para trás, naquele caos...e achamos dois brasileiros! A felicidade é tanta que logo surge um :
- "BRASILEIROS?!"
- "Sim... vc's tb!!!! Indo embora ou chegando!?"
- "Não.. não..não não.. indo embora!"
- " É, é melhor ir embora mesmo! Que confusão! "

No balcão da Swiss fomos muito mal atendidas e armamos a maior confusão com uma funcionária super mal educada que não foi capaz de nos esclarecer dúvidas a respeito das nossas malas e vôos. Bem feito.. ouviu mto de nós!
As 3 horas que íamos passar ali no aeroporto esperando o vôo para Zurique se resumiu a 15 minutos que usamos para ir ao banheiro e comprar um refri. Porque depois de toda aquela zona na Swiss nem vimos que quase era hora do embarque.
Foram 11 horas até Zurique, na Suíça. Passamos a maior parte do vôo dormindo e na hora da refeição minha irmã preferiu nem ter aberto os olhos. Carneiro ... essa era a NON - VEG . Que péssimo. Tudo ainda apimentado e cheirando a Índia. ehehehe Estávamos vendo estrelas já!
Chegamos em Zurique ás 6 da manhã, hora local, e nosso vôo era só as 22. Iriamos passar o dia ali... no aeroporto.
Fomos reconfirmar nossos vôos na hora que abriu os balcões e nos disseram que sim.. iríamos para São Paulo. Mas para Porto Alegre...ninguém saberia! Afinal, nosso vôo... DA VARIG estava incerto até então!
Nosso ódio pela Swiss indiana se transformou num amor profundo pela Swiss suíça ( hein!? ).
Uma funcionária do balcão de atendimento nos ajudou a reconfirmar nossos vôos para Porto Alegre, esperando a hora certa de ligar pro Brasil por causa do fuso e marcando novos lugares em todos os vôos de Sampa pra Poa que ela achou no sistema. Um assunto que não era dela, uma companhia que nem era a dela, e nós ali.... perplexas! Ela tinha ligado pro Brasil... por nossa causa! Quis mto abraçar essa pessoa até diminuir a cintura dela uns 12 cm! Que pessoa iluminada!
Tínhamos feito henna nas mãos dia 17, em Jaipur, e era visível nossa estadia na Índia pela pintura imensa nas mãos. Ela, quando viu aquilo, puxou assunto, perguntando até se tínhamos casado por lá! heheh Se compadeceu pela nossa cara de tristeza quando nosso vôo da Varig tinha sido cancelado e nossas caras de cansadas e resolveu fazer todo aquele trabalhão.. por nós! Valeu Swiss!
Resolvemos dar uma banda pelo aeroporto. As lojinhas ainda não estavam abertas e resolvemos sentar um pouco... caimos no sono ali mesmo, no meio do nada, super podres. As pessoas passavam, nos olhavam e nenhuma das duas estava se importando. At all! Toda a elegância dos suíços e nós ali...atiradas nas poltronas na frente das lojinhas.

Resolvemos voltar no balcão da funcionária iluminada ( afinal, ela pediu que voltássemos ) e nos ajudou um pouquinho mais.. Como se ainda fosse preciso! Agradecemos todo aquele super trabalho e nos despedimos daquela que deveria ganhar o quadrinho de funcionária do mês.
Ficamos vagando pelo aeroporto por mto tempo, cochilando aqui e acolá, testando o conforto das várias poltronas espalhadas por lá. Lojinhas, lojinhas, lojinhas. Nem compramos nada.
E então resolvemos comer alguma coisa. Parei na frente do Mc Donald's e senti uma pontada de alguma coisa que eu nem sabia o que era. E demos mais uma voltinha na praça de alimentação e me dei conta.... eu poderia escolher entre comer massa, pizza, peixe, café e pão.. tudo o que eu tinha comido na Índia por 5 meses... E CARNE DE GADO.Que eu não comia "hacien tiempos" e que estava ali...agora, na minha frente! Mc...ás vezes te amo tanto!!! E pedi... um cheese burguer... e comi carne de gado. Foi uma sensação maraaaaaviiiilhooooosa que eu não lembrava mais! E não venham me dizer que é exagero. Afinal, eu sou GAÚCHA, né?!

Passamos o dia enchendo as caixinhas de 5 francos para usar a internet. Fazendo contato com a família e com a nossa agente de viagens aqui em Caxias, resolvendo como chegar até Porto Alegre, através da Tam, Varig, Gol,.. o que tivesse. Com certeza gastamos uma boa parte do nosso dinheiro na internet... heheheh experimentando os diversos computadores espalhados por lá...e até um cyberzinho com bolas transparentes como cadeiras. Mto lindo. As pessoas que eu encontrava no msn, agora com menos diferença no fuso, só me perguntavam que hora eu chegava. E, infelizmente, eu não sabia dizer... tudo dependia do bendito vôo que tínhamos que ver se saia ou não pra Poa.
Fomos para a sala de embarque perto das 20 e lá ficamos..
E um senhor, de boina preta, sobretudo, ficava rondando, olhando... Sim, já tínhamos o antídoto para isso : morar na Índia. Mas tanto tempo fora...eu não sabia que no restante do mundo as pessoas faziam isso tb! Ele estava nos irritando. Sentou a uma poltrona de distância, na sala de espera, e ali ficou. E então ele puxou assunto... Falava calminho, bem devagar, com um sotaque bem estranho - em português - . Viu a henna nas mãos, viu que estávamos indo para São Paulo e ficou abismado. Ele conversou bastante, perguntou sobre a Índia..falou, falou. E nisso, chegou a Pati.
Subindo a escadinha rolante, atravessando os portões de embarque... Veio ela. Fui até a metade do caminho para abraçar a menina e uma emoção tomou conta das duas e depois das três. Estávamos ali reunidas de novo, na sala de embarque de Zurique..... e quem diria.. voltando para o Brasil! Tínhamos trocado nosso vôo ainda em Delhi, há eras atrás para voltarmos antes pra casa e por acaso conseguimos o mesmo vôo. Sabíamos que ela estaria com a gente nesse avião, mas Deus.. como ela custou a chegar! Achamos que ela tinha se perdido por lá! hehe

E então o amiguinho saiu dali e deixou a gente conversando, colocando as news em dia. E olha que foram bastante! Dias depois, já em casa, sabendo dos conflitos do Líbano e vendo uma entrevista com um libanês em São Paulo, me dei conta que ele tinha fortes chances de ser um deles. Fugindo da guerra e indo para o Brasil. O sotaque era exatamente o mesmo...

Nossas poltronas eram super perto. Eu e minha irmã do lado direito do corredor e a Pati no meio, do nosso lado, na fila da frente. Logo que entrei no avião com a minha camisetinha made in Mc Leod Ganj uma aeromoça brasileira olhou pra mim, pra frase estampada no peito e sorriu, repetindo.. Tashi Delek, criamos ali uma amizade de algumas horas...O vôo de 18 horas incrivelmente passou rápido demais. Acordávamos só na hora das refeições e como se contivesse sonífero em tudo - até no ar - capotávamos para o lado de novo. Acordamos com o dia nascendo já. Estávamos chegando no Brasil... estávamos de volta ao Brasil... Brasil.
Pela janelinha eu olhava pra fora e mal pudia acreditar.
Aquilo tudo que deixei pra trás dia 06 de fevereiro eu estava revendo de novo... 19 de julho.
A descida em São Paulo foi corrida. Catamos nossas malas e um nervosismo imenso se espalhava em nós três. Que horas seria nosso vôo?!! Se ainda tivesse vôo.....

Quando chegamos no saguão, procuramos na tv nosso vôo. Ele estava lá... confirmado! Fomos ao balcão e aí nosso mundo caiu. Ele tinha sido cancelado e não tiraram do monitor. Nossa única esperança era o balcão da Varig. Enquanto minha irmã estava lá, a Pati foi no da Swiss e eu cuidei das zilhões de malas. Só eu e minha irmã tínhamos 4 mais as bagagens de mão! hehe
A funcionária da Swiss "explicou" pra Pati que ter um ticket não significaria que iríamos voar. ( !!!!!! ) Pq diabos se faz uma reserva e se imprime um ticket de vôo então!? Fiquei pensando se depois que eu saí do Brasil mudou tanta coisa assim.

No final das contas fomos pro escritório da Swiss - pq foi nos informado que como eles nos trouxeram ao Brasil e não tínhamos mais a Varig se responsabilizando por nós , teríamos que depender da Swiss - . Fiquei, claro, cuidando das malas e a Pati e a minha irmã entraram lá. Minha curiosidade era tanta e tava demorando um pouquinho demais e eu enfiei a cabeça pra dentro da sala e fiquei ouvindo junto. Final das contas : tínhamos 3 vôos da Tam que sairiam de Sampa pra Poa no tempo de 3 horas. Saímos correndo pro balcão, e colocamos nosso nome na lista de espera pro que sairia ás 7:50 porque o das 6:50 já não dava mais tempo e o outro, o mais tarde ainda sairia de Congonhas e teríamos que trocar de aeroporto. Minha irmã entrou na fila para colocar nossos nomes na lista e esperamos, eu e a Pati, com o coração aos pulos. A quantidade de gente era grande, esperando para voar de alguma coisa pra algum lugar. Mas naquele dia ainda..sem mtas complicações. A funcionária da Varig, de pouco em pouco, avisava, em voz alta, os próximos vôos que sairiam e as cidades e 5 minutos depois, já avisava os próximos. Quem estivesse ali, na hora exata embarcava. E foi o que fizemos... ficamos ali e quando nosso vôo foi anunciado, corremos pro balcão. Na nossa frente tinha 3 pessoas na lista de espera.. por sorte - a nossa , claro! - elas não estavam ali e nós três... Patrícia Cuozzo, Caroline e Thayse Dal Ponte foram chamadas. Nossos olhos se encheram de lágrimas... Estávamos voltando para casa!
Saí correndo catando um telefone para ligar pra casa e avisar meus pais que tinham cancelado o almoço de boas - vindas na minha tia que mora em poa por falta de informações exatas sobre o horário da nossa chegada. Demorei horas para entender como se fazia a tal da ligação á cobrar de um telefone público! A Índia tinha me facilitado as ligações nesse aspecto. O embarque era imediato e quase nos perdemos no aeroporto por causa da função de ligar pra casa.
Já estávamos dentro do avião... indo pra casa. Lá embaixo, aquilo tudo que eu sentia falta...
Chegamos em Porto Alegre ás 9:30 da manhã de 19 de julho de 2006.
Catamos nossas malas na esteira, morrendo de medo que faltasse alguma. Mas não...estavam todas lá, quase sorrindo pra nós... Do tipo "hey, tb cheguei!"
Não conseguíamos enxergar nossa família pelo vidro. Milhões de pessoas com faixas e balões e aos gritos esperavam mais gente lá fora. E nada da nossa família. Fui perto do vidro, tentando tapar o reflexo com a mão...e lá vi eles. Olhando pra um lugar em que a gente não estava... cara de preocupados e atentos. O casal mais bonitinho que eu conheço e que eu morria de saudades estava ali...de bracinho dado nos esperando. Abanei, abanei... E então as duas cabecinhas se viraram pra minha direção. Meus pais!
Vieram pra perto do vidro e naquela ceninha de novela as mãozinhas se encontraram no vidro, os dois do lado de fora e eu por dentro. Chorei.....

Carregamos as malas no carrinho e saímos porta afora. Abracei meus pais e chorei.
Dei tchau pra Pati e fomos pro almoço feito ás pressas na casa da minha tia.
Que saudades de todo mundo !

Um comentário:

Diandra disse...

E eu chorei lendo seu post.